segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Eduardo Falcão, atualmente é um dos arquitetos mais conceituados do Rio Grande do Norte

Luiz Eduardo Falcão

 Luiz Eduardo Falcão é arquiteto e responsável por uma série de projetos importantes na estrutura física de Mossoró, dentre eles o Corredor Cultural , principal espaço de sociabilização da cidade.
Atualmente é um dos arquitetos mais conceituados do Rio Grande do Norte e responde pelo projeto de restauração do Teatro Lauro Monte Filho.
Nesta entrevista, Luiz Eduardo fala sobre o atual momento da arquitetura na cidade, comenta um pouco de sua experiência na profissão e fala sobre a proteção ao patrimônio histórico de Mossoró. Confira.
O Mossoroense: Como começou a sua paixão pela arquitetura?
Luiz Eduardo Falcão: Sou arquiteto e urbanista há 18 anos, formado pela UFRN. Antes disto, trabalhei 4 anos como técnico de contabilidade, sendo esta minha formação secundarista. Minha vida profissional começou com a convivência familiar. Sou filho de um contador (Evilásio Falcão) e de uma dona de casa muito habilidosa em várias áreas. Edna Moura foi costureira, bordadeira, confeiteira, gourmet, psicóloga e arquiteta da nossa casa - sem nenhuma formação. Fiz o primeiro grau no Colégio das Freiras e lá tive contato com o universo das artes nas nossas aulas de educação artística. Tive aulas de pintura com Marieta Lima e tudo foi me levando a gostar das artes e a acreditar que a família é a base de tudo.
OM: Quais as principais mudanças na arquitetura nos últimos tempos?
EF: Arquitetura é uma profissão muito abrangente, toda mudança ocorrida na sociedade causa reflexos imediatos na arquitetura. Todo material de construção que é lançado, toda tecnologia que surge, todo comportamento que muda proporcionam mais possibilidades e complexidades para nossa profissão.
Os avanços nas ciências, a grande preocupação com a sustentabilidade e o desenho universal têm sido a tônica do momento. Eficiência energética, consumo responsável, reciclagem, reuso, acessibilidade, entre outros, têm sido um grande desafio que todos temos que considerar quando estamos produzindo.
OM: E como tem se comportado o mercado mossoroense com todas essas mudanças? O que podemos destacar?
EF: Mossoró tem vivenciado muito estas mudanças. Em poucos anos a cidade passou por um processo de supervalorização dos espaços, proporcionado pelos investimentos em infraestrutura urbana. Ganhou ares de cidade grande e foi considerada uma das melhores para se empreender no Brasil.O surgimento de universidades, shopping, de franquias mundialmente famosas e de grandes condomínios fechados faz com que a qualidade de vida na cidade seja melhorada. O bom mesmo seria se todos tivessem acesso.
OM: A Praça de Convivência é uma das obras que você assina. Como pensou o projeto da praça? É o trabalho que tem mais carinho? 
EF: Assim que concluí o curso de Arquitetura e Urbanismo fui trabalhar na Prefeitura de Mossoró, onde participei de muitos projetos e decisões até junho deste ano.Entre tantos projetos, o primeiro que tomou destaque foi a praça Rodolfo Fernandes, conhecida como Praça do Pax. A Praça da Convivência foi realmente um ápice, como foi bom participar de um projeto que considero bastante vitorioso. Depois de conseguir convencer os que estavam envolvidos no processo, que o partido arquitetônico que seria adotado poderia se transformar num marco referencial para a cidade começamos a traçar as milhares de linhas que compõem aquele cenário. Este projeto foi desenvolvido em coautoria com a arquiteta Vera Cidley, que nos rendeu uma parceria bem salutar que dura até os dias atuais.

OM: Que outros empreendimentos em Mossoró levam a sua assinatura? Qual destes lhe deu mais trabalho?
EF: No âmbito da Prefeitura de Mossoró tive a oportunidade de participar de grandes projetos, incluindo os efêmeros e muitos que não foram edificados. Passando pela requalificação da avenida Rio Branco, pelos palcos e cenários dos primeiros Autos da Liberdade, pelas Cidadelas, por muitas das praças de Mossoró, pela Biblioteca Ney Pontes, participamos do projeto do Centro Vocacional Tecnológico de Mossoró. Esse grandioso projeto tem no programa de necessidades um museu de ciências e tecnologia, um planetário e um centro de pesquisa e estudo das cadeias produtivas do Estado do RN.Esse projeto foi idealizado por Isaura Amélia Rosado, para realizá-lo necessitamos fazer visitas a museus do mesmo tema em muitos locais do mundo. Essa foi uma experiência bem marcante na minha vida. Espero um dia vê-lo de pé.
OM: Mossoró tem perdido importantes edificações antigas, parte do seu patrimônio material. Qual a sua opinião a respeito? O que poderia ser feito para diminuir este cenário? 
EF: Patrimônio cultural é um dos quesitos da sustentabilidade. O que deixaremos de legado para as nossas futuras gerações?A meu ver, é um problema muito sério no Brasil inteiro. Com a Constituição de 1988 transfere-se ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) a grande responsabilidade de fazer preservar a memória cultural do país. O Iphan está presente nas capitais brasileiras e em algumas cidades que são consideradas patrimônio da humanidade. A maioria das cidades está descobertas por este serviço e Mossoró está dentre elas.Neste caso, precisamos de lei municipal e sua devida regulamentação para que possamos avançar nesta área. Precisa-se inventariar esses bens urgentemente, precisa-se fiscalizar, precisa-se aplicar multa.Temos presenciado em Mossoró a demolição de muitas edificações históricas causada pela especulação imobiliária. A Prefeitura não tem o cadastro desses imóveis como sendo de valor cultural e assim não tem como aplicar a Lei do Plano Diretor.
OM: Já existem movimentos articulados em defesa do patrimônio histórico da cidade? Se não, acha que já é hora da sociedade civil se articular em prol desta pauta? 
EF: Participamos de um grupo de arquitetos de Mossoró interligados por uma rede de Whatsapp. Este grupo nos tem possibilitado discutir muitos assuntos inerentes a nossa profissão. Entre tantas discussões estamos conseguindo viabilizar uma palestra de uma arquiteta mestre em patrimônio cultural na Câmara Municipal de Mossoró, no dia em que acontece o Projeto Câmara Cultural. A ideia é fazer com que os legisladores da nossa cidade tenham contato com o assunto para ampliar as discussões e atuações. Tudo indica que vai acontecer ainda este mês.
OM: Mossoró passa por um "boom" imobiliário. Há realmente um crescimento ordenado da cidade?
EF: Temos notado números crescentes em saneamento, em asfaltamento, em coleta de lixo, em equipamentos e mobiliários urbanos, em urbanização de favelas, entre outros. A cidade de Mossoró precisa urgente de desenvolvimento na questão da mobilidade urbana. Outro dia no nosso grupo de arquitetos lancei um desafio: Vamos trabalhar um dia sem utilizar veículo motorizado particular! Alguns sugeriram a bicicleta, outros os patins e eu tentei ver como utilizaria o transporte público coletivo, resultado: não tem eficiência nenhuma
OM: Hoje em dia o trabalho do arquiteto ainda é valorizado e admirado como em outros tempos? 
EF: O trabalho do arquiteto está em plena ascensão. As pessoas estão cada vez mais conscientes do diferencial na qualidade de uma construção projetada e planejada.O exercício da profissão é controlado por nosso Conselho, CAU - Conselho de Arquitetura e Urbanismo - que tem realizado uma fiscalização bastante eficaz. Mesmo assim, ainda nos deparamos com casos de falsos arquitetos, porém o empenho do Conselho está em combater esta prática.
Do Mossoroense

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