terça-feira, 14 de julho de 2015

Cientista do RN que atua em Harvard falou ao Globo sobre Sonda da Nasa que passará por Plutão nesta terça-feira


Do Globo
Sonda da Nasa vai passar por Plutão nesta terça-feira
Após 9 anos de viagem, New Horizons enviará dados sobre a geologia do planeta-anão e de sua lua Caronte
RIO – Quando a sonda New Horizons, da Nasa, deixou a Terra em janeiro de 2006 no topo de um foguete Atlas V, seu objetivo principal, Plutão, ainda era um planeta “de direito”, o nono e, na maior parte do tempo, o mais distante do Sol. Ainda em agosto daquele ano, no entanto, a assembleia da União Internacional de Astronomia (IAU, na sigla em inglês) decidiu “rebaixá-lo” à recém-criada categoria de planeta-anão, colocando-o ao lado de outros corpos planetários menores do Sistema Solar.
A nova classificação de Plutão, no entanto, não diminuiu a importância da inédita missão da New Horizons, que na próxima terça-feira vai passar a meros 12.500 quilômetros da superfície do agora planeta-anão e a 29 mil quilômetros de sua lua Caronte, num momento aguardado com grande expectativa por cientistas ao redor do mundo. Isso porque a sonda é a primeira a estudar de perto o principal ícone da região dos corpos celestes além da órbita de Netuno (também chamados objetos transnetunianos), coletando dados com o potencial de confirmar e trazer novas revelações sobre suas características, composição, propriedades e formação.
O FECHAMENTO DE UM CICLO
Até agora, informações como essas só podiam ser obtidas e estimadas à distância por meio de alguns dos mais poderosos telescópios, instalados em solo ou no espaço, desde a descoberta de Plutão pelo astrônomo americano Clyde Tombaugh, em 1930. Além disso, o encontro da New Horizons com Plutão e Caronte fecha o ciclo de missões robóticas da Nasa a todos os apelidados nove planetas “clássicos” do Sistema Solar, pouco mais de 50 anos após sua primeira bem-sucedida viagem interplanetária, da sonda Mariner 2 a Vênus, em 1962.
— A New Horizons está entre as mais importantes missões espaciais dos últimos anos — avalia o astrofísico José Dias do Nascimento Júnior, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e atualmente pesquisador-visitante no Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian (CfA), nos EUA. — Hoje não temos uma ideia precisa sobre a aparência de Plutão nem de Caronte, e sabemos muito pouco sobre os objetos do Cinturão de Kuiper, dos quais Plutão é o carro-chefe. Tudo o que temos é baseado em observações distantes, então o sobrevoo da New Horizons vai certamente mudar a nossa ciência de forma brusca. Vamos, por exemplo, poder mudar as cores das representações de Plutão, que até o presente são apenas “concepções artísticas”. Após o sobrevoo, teremos fotografias de Plutão, e não mais pinturas. Teremos que reescrever os fatos em nossos livros didáticos em todos os níveis.
De fato, a imagem que temos sobre Plutão e seu sistema já está mudando. Quando a missão New Horizons começou a ser planejada, em 2001, a única lua de Plutão conhecida era Caronte, descoberta em 1978. Mas a preocupação dos cientistas com a segurança da trajetória da sonda na passagem pelo planeta-anão levou à alocação do precioso tempo do telescópio espacial Hubble para observação do sistema, o que levou à descoberta de mais quatro satélites naturais de Plutão: Nix e Hidra, em 2005; Estige, em 2011; e Cérbero, em 2012.
— A descoberta destas pequenas luas foi um problema para o planejamento da missão, visto que elas sofrem impactos de micrometeoritos com certa frequência e as menores não têm gravidade suficiente para puxar de volta os detritos e a poeira levantados pelos impactos — explica o também astrofísico Denilso Camargo, professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). — Esta poeira pode se espalhar pelas órbitas dessas luas, formando tênues anéis, ou até mesmo ir para além de suas órbitas. É algo bastante preocupante, já que, devido à grande velocidade da New Horizons (cerca de 60 mil km/h), partículas como um grão de areia podem danificar gravemente a sonda antes de ela retornar os dados coletados.
AS VERDADEIRAS CORES
À medida que a New Horizons se aproxima para seu encontro, novas imagens cada vez mais nítidas enviadas pela sonda também estão alterando a visão que temos sobre o planeta-anão e Caronte. Se até recentemente as representações artísticas de Plutão mostravam uma bola opaca de coloração cinza-azulada, agora já sabemos que Plutão é alaranjado com manchas mais escuras, enquanto Caronte é cinza, parecendo apresentar ainda uma calota polar de coloração também escura.
— A equipe da New Horizons anunciou que a sonda confirmou a presença de gelo de metano na superfície de Plutão e que esse metano pode ser primordial, ou seja, pode ter sua origem ligada à nuvem de material que deu origem ao Sistema Solar — diz Camargo. — A cor de Plutão e Caronte está relacionada com a composição das suas superfícies. O laranja de Plutão provavelmente se deve a gelo de metano fresco, e as manchas escuras, a metano degradado. Já a cor cinza de Caronte deve-se ao fato de que sua gravidade é insuficiente para evitar que o nitrogênio e o metano escapem, sendo sua superfície possivelmente recoberta por gelo oriundo de água.
Se tudo correr como planejado, a New Horizons também será capaz de mapear a superfície de Plutão e Caronte, além de fornecer dados sobre a sua composição e temperatura. A sonda vai analisar ainda a atmosfera do planeta-anão. Depois de passar por ele, a sonda seguirá para as profundezas do Cinturão de Kuiper, onde poderá estudar outros objetos transnetunianos e até descobrir novos mundos.

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