domingo, 11 de maio de 2014

Para Refletir no Dias das Mães

Quando a noite cai sobre Mossoró e debruça a cidade sob um denso veludo escuro, uma nova rotina, com novos personagens se inicia. A prostituição é uma das protagonistas, das madrugadas de muitas cidades, e em Mossoró isso não é diferente. A profissão, que popularmente é conhecida como a mais antiga do mundo, é talvez uma das mais mistificadas, e ainda é símbolo de muito preconceito e intensos debates pela sociedade civil.
Diferentemente do ideário habitual de que as mulheres que vivem e trabalham na noite não têm família, e que não conservam nenhum laço familiar depois que adentram na prostituição, reportagem do jornal O mossoroense conheceu e ouviu histórias de mães, filhas e trabalhadoras que transformaram seu corpo em renda, adentraram em um mundo perigoso, muitas vezes regado a drogas, mas que ainda vivem e nutrem o mesmo carinho maternal que todas as mulheres possuem por natureza.
O itinerário da reportagem começou por um bar conhecido do público mossoroense por reunir garotas de programa e parte da boemia mossoroense. Música alta, ambiente escuro, mesas separadas e repletas de homens acompanhados de belas mulheres são alguns dos detalhes que compõem o peculiar ambiente.
Inicialmente, ao perceber a presença de repórteres, parte das meninas se retirou do recinto, fugindo da possibilidade de flashs e gravações que possam identificá-las, uma vez que grande parte das garotas de programa possui uma vida paralela, frequentam universidade, possuem relacionamentos fixos e escondem da família e amigos a origem do dinheiro que sustenta as roupas caras e os luxos, habituais em grande parte desse meio.
Felipa Martins*, de apenas 20 anos de idade, viveu por algum tempo o deslumbre da profissão, porém percebeu as dificuldades de ser prostituta exatamente no momento em que a maternidade se tornou um fato presente diariamente. Espontânea, ela relata pontualmente os motivos que a levaram ao mundo da prostituição, e revela que continua a sair com homens apesar de viver em meio há uma gravidez.
"Eu estou com cinco meses de gravidez, mas não posso parar de fazer programa, pois preciso bancar os gastos que terei com o nascimento da criança, eu escondo dos clientes minha gravidez, pois eles se negam a sair com uma mulher grávida. Minha mãe está distante, pensa que eu estou casada, que tenho vida fixa, mas não sabe que tenho vivido em meio à prostituição" comenta a garota de programa.
Felipa relembra que sua história com a prostituição começou assim que ela abandonou o curso de farmácia, em uma faculdade privada de Natal. Após uma briga com a família, ela, que já tinha envolvimento com cocaína, veio morar em Mossoró, a fim de viver e se sustentar com a prostituição.
"Hoje não utilizo mais drogas, mas já cheguei a usar quantidades absurdas de drogas, para ficar acordado por três dias me prostituindo sem parar", relata Felipa, que comenta que irá criar o filho sozinho, pois o pai da criança está preso em uma penitenciária da região, por associação com o narcotráfico. Felipa disse estar muito triste por não poder passar o Dia das Mães com sua mãe. "O meu Natal sem minha família foi o pior de minha vida, e sei que esse dia também será", conclui.
Outra história que chama a atenção é a de Bia Carlos*, que preferiu não conversar com a reportagem, mas permitiu que suas colegas explicassem um pouco do drama vivido pela garota de programa nos últimos anos.
Segundo suas amigas, Bia foi empurrada para a prostituição após a morte dos pais, que deixaram, além dela, dois filhos menores. Para garantir o sustento e estudo das crianças, Bia optou por se prostituir, garantindo uma renda maior e mais fácil para a garota. De acordo com as amigas, Bia prefere não comentar o assunto, pois até hoje relembra com emoção e saudade de sua mãe, há tempos falecida.
Nilda Maria*, que hoje trabalha como gerente em um bar que é utilizado como ponto de prostituição, comenta que sua história de prostituição se cruza com uma maternidade solteira e a falta de perspectivas na vida. Ela comenta que apesar de nunca ter contado, tem certeza que sua mãe sabe da vida paralela que leva.
"Hoje eu não me prostituo mais, mas por muito tempo precisei fazer isso para garantir o sustento de meu filho, que não possuía um auxílio paterno. Hoje ele tem 11 anos, e eu serei em breve mãe solteira de novo. Gostaria de sair dessa vida, para ter mais tempo para ficar com ele, ser mais presente, mas não posso. Gostaria de levar uma vida menos estressante e ajudar minha mãe que é quem realmente cria ele, eu sei que ela ficaria muito triste se soubesse no que eu trabalho. Acho que ela desconfia... Na verdade acho que todas as mães desconfiam", ela comenta.
Por Cláudio Palheta do Mossoroense 

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