Não é necessário nenhum intermediário para que a criatura alcance a Deus.
No grave período medieval o sacerdote e teólogo inglês John Wyclif apresenta ideias revolucionárias opostas às imposições da religião dominante à época: defendia que não é necessário nenhum intermediário para que a criatura alcance a Deus, como também o acesso dos laicos aos textos da Bíblia.
A Inquisição, quando não excomungava, levava à fogueira todos os considerados hereges, aqueles que contrariavam o catolicismo. Denúncias covardes eram acolhidas como serviços à fé.
Nesse clima de terror, o pregador Jan Huss tomou conhecimento das ideias de Wyclif. Como também sentia a distância entre o que proclamavam os teólogos e o conteúdo do Evangelho de Jesus, tocou-se com a proposta wyclifeana e passou a expô-las abertamente. Também era a favor de que a Doutrina deveria ser exposta no idioma nacional. Sua ideologia chocava os chefes do poder, ao mesmo tempo em que atraía multidões sedentas da verdade. Seus inimigos o proibiram de pregar na igreja e o expulsaram para os arredores de Praga. Ameaçado de excomunhão, não se intimidou.
Todo o império tcheco-eslovaco obedecia cegamente à religião dominante. O imperador Sigismundo negociava com a igreja de Roma a segurança do trono. Conhecia Huss desde a Universidade e lhe admirava os ensinamentos. Convocou o sínodo de Constança para permitir ao pregador defender-se das acusações de heresia e por ser simpático aos ideais dele, forneceu-lhe um salvo-conduto que o consentia explicar-se em liberdade.
Huss foi atirado no cárcere sem acusação formal e julgado pelo sínodo sem direito de defesa. Ante a ameaça de excomunhão por estar defendendo um herege, Sigismundo anulou o documento, traindo o súdito que nele confiara.
Acusado de ser discípulo do condenado John Wyclif, Huss foi humilhado, destituído dos títulos, exposto ao ridículo público e por fim condenado à fogueira. Também as obras dele foram queimadas, para que não ficasse nada dos seus ensinamentos para o futuro.
Relata o Espírito Vianna de Carvalho, através da psicografia de Divaldo Pereira Franco, que ao serem ateadas as chamas, exclamou: "- Vós hoje assais o pato (Huss, em tcheco). Um dia, porém, virá um cisne de luz, que voará acima das vossas labaredas e essas não o alcançarão". E enquanto enunciava com dificuldade uma Ave-Maria conforme a fé que abraçava, não conseguiu terminá-la.
Passados quase quatrocentos anos, seus adversários também consumidos pelo túmulo, Jan Huss reencarna no momento em que a ciência liberta-se das algemas religiosas, como Hipollyte Léon Denizard Rivail, que mais tarde adotaria o pseudônimo de Allan Kardec, missionário da Doutrina Espírita.
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