quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A Partilha do Sagrado

A Casa de Cultura de Matriz Africana Ilé Àsè Dajó Ìyá Omí Sàbá iniciou a mobilização para a realização da 10ª edição do Encontro Cultural de Religião de Matriz Africana que abordará a “Violência numa visão social e política”.
As atividades serão abertas na Câmara Municipal nesta sexta-feira (30), a partir das 19h com mesa redonda com a participação de orientadores espirituais da religião, autoridades constituídas e convidados.
No sábado (31), acontece a Festa do Olubajé 2013 – A Partilha do Sagrado) com ritual campal na Rua Duque de Caxias, na frente da Casa Ilé Àsé.
O Babalorixá Noamã Pinheiro reforça o convite aos adeptos do candomblé e da umbanda, como também de pessoas de outras religiões e crenças para debater a temática da violência, presente no cotidiano das pessoas e da cidade, como também para participar do ritual campal, como forma de desmistificar os cultos das religiões baseadas em origens africanas.

PARTILHA E ACOLHIMENTO.

A generosidade é a marca da cultura indígena. Para esses povos não há propriedade particular. O que é de um é de todos.
Os europeus, ao chegarem aqui, ficaram surpresos com essa realidade. Hans Staden, alemão que viveu vários meses entre os Tupinambás como prisioneiro, na metade do século 16, assim os descreveu: “Não existe entre eles propriedade particular, nem conhecem dinheiro. Seu tesouro são penas de pássaros. Quem as tem, é rico e quem tem cristais para [enfeitar] os lábios, é dos mais ricos.”
Não havia e, ainda não há na maior parte das aldeias, diferença social, isto é, pobres e ricos. A disparidade social existente no mundo ocidental muito chocou os Tupinambás, que estiveram na França, no início do século 17, e que serviu de reflexão filosófica para o pensador francês Montaigne: “Observaram que há entre nós gente bem alimentada, gozando as comodidades da vida, enquanto metades [uma grande parte] de homens emagrecidos, esfaimados, miseráveis mendigam às portas dos outros”.
Para evitar acumulação da propriedade, certos povos criaram rituais que realizam a redistribuição dos bens, acumulados ao logo do tempo, como ocorre ainda hoje entre os Tapirapés do Mato Grosso. É o rito do kaawin-ô, realizado a cada dois ou três anos. Prepara-se uma grande quantidade de cauim, sendo que parte é levada numa cuia para que os adultos que vão participar possam tomar um pouco dele. Ao provar a bebida, a pessoa cospe um pouco no chão, mostrando que aceita participar desse ritual. Nesse momento as pessoas que acompanham o grupo cerimonial têm o direito de pegar o que desejarem da casa daquela pessoa. “Há ao mesmo tempo desprendimento e audácia, que podem causar admiração e medo” comenta Ir. Odila, que vive há anos com eles. Em pouco tempo “cama, colchão, cadeira, fogão a gás, pasta de urucum, arara, galinha, tudo muda de proprietári o em apenas uma manhã”, num grande movimento redistributivo.
Entre os Bororos, os bens da pessoa desaparecem no momento da morte. Um dos elementos do ritual consiste em queimar os pertences do morto, destruindo assim a idéia de herança. O que se transmite são os valores morais e espirituais.
Entre outros povos esse processo é feito de forma mais espontânea e em algumas comunidades praticamente não existe a noção de propriedade particular, tudo podendo ser de todos.
Um outro aspecto é o acolhimento. Nessas comunidades a família não é restrita apenas ao pai e à mãe, como em nossa sociedade, mas é formada pela família extensa, que inclui os avós, os tios maternos e paternos. Se faltar um dos membros do casal — o pai ou a mãe, devido à morte ou separação –, a criança não fica desamparada, pois é acolhida por outra pessoa da família, como o tio ou o avô. Isso explica porque nas comunidades indígenas não existecriança abandonada ou menor carente.
Por Benedito Prezia

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