O coordenador do AfroReggae, grupo que realizava atividades culturais e sociais no Conjunto de Favelas do Alemão, explicou porque o grupo encerrou as atividades no local neste sábado (20). Quatro dias após o prédio ser incendiado, José Junior disse que houve ameaças a integrantes da organização.
"Dessa vez veio uma determinação para fechar o AfroReggae. Se isso não acontecesse, haveria morte, iriam explodir o prédio e matar as pessoas", disse Júnior em entrevista coletiva neste sábado, na sede do grupo, no Centro do Rio.
A ONG, que existe há mais de 20 anos, atuava para intermediar soluções entre o poder paralelo e a comunidade. A situação mudou, segundo seu porta-voz, quando o grupo denunciou o pastor Marcos Pereira, preso pela acusação de ter estuprado fiéis, a ONG passou a ser ameaçada.
"A gente denunciou o pastor como o maior mentor criminoso do Rio. Dissemos que era estuprador, pedófilo e tinha envolvimento com ataques de 2006 e 2010", disse Júnior. Segundo ele, entre sexta e segunda, o departamento jurídico do AfroReggae foi procurado pelo advogado do pastor, dizendo que tiraria as denúncias contra o coordenador da ONG. "Na terça (um dia depois) atacaram a pousada. Sendo que no dia 5, era prevista a presença de 40 jovens lá dentro, por conta de uma inauguração. A minha preocupação é que exista a possibilidade de matar inocentes".
Júnior disse ainda que "se o crime crime fosse uma empresa, ele [pastor Marcos Pereira] seria o presidente do conselho e com muita influência. Ele é um conselheiro, uma pessoa que se beneficia do dinheiro do narcotráfico, ele é uma pessoa que manipula para ataques. Não acho que tenha sido coincidência ele fazer isso nessa época de chegada do papa. Tem uma coisa de desestabilizar o governo, de chamar a atenção. Não estamos falando do bandido da favela, estamos falando de algo muito maior. Ele continuou mandando, a ter influência muito grande com criminosos e traficantes famosos. É por isso que tudo está acontecendo agora."
Há menos de uma semana, a pousada do AfroReggae e a redação do jornal "Voz da Comunidade" — veículo que ficou famoso por informar em tempo real o dia a dia da ocupação — foram incendiadas. Uma pessoa foi presa e outro acusado será ouvido pelo delegado Reginaldo Guilherme da 22ª DP. Há suspeitas de que o incêndio tenha sido criminoso.
"Foi uma ação orquestrada, planejada, feita por gente de fora do Alemão e que tem a ver com as denúncias que venho fazendo sobre determinadas pessoas. Desde fevereiro acontecem coisas estranhas com o pessoal do AfroReggae. É integrante assassinado, tiros na Corrida da Paz e agora esse incêndio. Não posso afirmar com 100% de certeza porque não tenho provas materiais, mas tenho 20 anos de trabalho em favela, com pessoas que saíram do tráfico e sei que vandalismo não existe. Na favela, as coisas acontecem porque alguém manda", desabafou José Júnior, coordenador do grupo AfroReggae, ao chegar à 22ª DP (Penha), na ocasião.
Segundo Júnior, "muitas das coisas estão acontecendo no sentido de fragilizar o governo. Ele [pastor Marcos Pereira] tem uma relação política que basta ver quem ele apoiou como candidatos nas últimas eleições. Ele tem poucas igrejas porque o esquema criminoso dele é enxuto externamente, mas internamente não. Como uma igreja pobre, que se diz pobre tem um apartamento de R$ 8 milhões e coleção de carros importados?
Na terça-feira (16), o advogado do pastor Marcos Pereira, Marcelo Patrício, negou a acusação feita pelo coordenador do AfroReggae, José Júnior, de que teria envolvimento do ataque à pousada no Alemão. Ele afirmou que a declaração é uma forma de tentar sensibilizar o judiciário, já que o pastor está em vias de ser libertado, após o processo de coação a que Marcos respondia ter sido anulado. A reportagem do G1 procurou o advogado de Pereira neste sábado, mas até o fechamento desta publicação ele não havia se pronunciado sobre o caso. "Sempre atuamos na intermdiação de conflitos, para tirar pessoas da prisão. Essa foi a única vez que estimulamos a prisão de alguém", disse Júnior.
Boletim de ocorrência na segunda-feira
José Júnior afirmou que as ameaças serão registradas na próxima segunda-feira (22), na 22ª DP. Até lá, o coordenador da ONG voltará a se reunir com integrantes do grupo AfroReggae. Ele garantiu que nenhum dos mais de 23 funcionários que trabalhavam no Alemão serão demitidos. Como haverá um recesso por conta da Jornada Mundial da Juventude, eles serão realocados em outras unidades do grupo após o feriado religioso.
José Júnior afirmou que as ameaças serão registradas na próxima segunda-feira (22), na 22ª DP. Até lá, o coordenador da ONG voltará a se reunir com integrantes do grupo AfroReggae. Ele garantiu que nenhum dos mais de 23 funcionários que trabalhavam no Alemão serão demitidos. Como haverá um recesso por conta da Jornada Mundial da Juventude, eles serão realocados em outras unidades do grupo após o feriado religioso.
A unidade, segundo Júnior, atendia 250 jovens, mais os familiares deles e outras pessoas que eram encaminhadas para programas de empregabilidade. O Afroreggae tem uma pousada, um galpão e um prédio no Alemão. "Todos estão fechados, mas irei lá na segunda-feira ver o que ficou dentro do prédio. Aquilo lá é do AfroReggae e não vamos vender nada".
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