A desertificação foi ocasionada pela retirada da caatinga para a agricultura e excesso de irrigação
Cabrobó (PE). "Aqui não serve mais para nada. O sal tomou conta desse pedaço de terra que nem os animais se aproximam mais". O depoimento do agricultor Cícero Vieira Rodrigues resume a situação em que se encontram 10% dos 22 hectares da Fazenda Bela Vista, de sua propriedade, em Cabrobó, um dos quatro núcleos de desertificação segundo critérios adotados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), localizada a 531 Km de Recife, às margens da BR- 428. O problema é tão grave e de difícil reversão que onde deveria estar a camada de areia, facilmente se apanha o sal com a mão.
Parte da Fazenda Bela Vista tem o solo coberto de sal e não tem mais utilidade Fotos: Cid BarbosaO panorama nessa parte da fazenda impressiona. O verde do solo deu lugar ao branco do sal. O manejo incorreto da terra foi o principal responsável pela completa degradação do local. A velha prática de retirar a vegetação para preparar a lavoura, seguida de enchentes sucessivas, levou o que restava da parte superficial do solo, deixando pequenas voçorocas. "Fomos surpreendidos. Em 2008, logo após a "limpeza" da terra, veio a água em excesso. O que sobrou desde então foi o sal. O pessoal da Embrapa esteve aqui e disse que somente com a implantação de drenos poderíamos tentar salvar o terreno. Só que, do ponto de vista financeiro, é inviável", lamenta Cícero. Outro aspecto da salinização é que a terra, na maioria dos trechos, é bem fina e aparentemente úmida.
A maior prova de que a ação antrópica foi a responsável pela degradação fica na mesma fazenda, a menos de dez metros de distância da área atingida. Ali, a plantação de melancia com outras culturas consorciadas produz uma bela imagem verde. Segundo Cícero, a irrigação é feita por meio de gotejamento, ou seja, a água é usada de forma parcimoniosa. O mesmo cuidado existe com a adubação, aplicada naturalmente e em doses precisas. "Aprendemos a lição. Se não agirmos de forma sustentável, tudo um dia se acaba, a exemplo do que ocorreu aqui do outro lado", ensina.
Mesmo com as dificuldades, Cícero ainda vai fazer uma última tentativa de pelo menos minimizar os efeitos da salinização. "O sal é tão cruel que nem o capim sobrevive a ele. Vou tentar a forrageira atriplex (erva-sal) - uma planta que se caracteriza pela sua elevada tolerância à seca e salinidade do solo".
O secretário de Agricultura de Cabrobó, Marizan Rodrigues, reconhece que o manejo de forma abusiva da terra é um dos principais responsáveis pelo processo de desertificação enfrentado pelo município. "Durante décadas, a cultura do arroz, com irrigação excessiva e adubação realizada sem qualquer tipo de análise do solo contribuíram para deixar a terra salinizada. Algumas áreas foram abandonadas pelos agricultores. Hoje, a gente vê o chão rachado onde os canteiros de arroz existiam. Cabrobó foi por muito tempo o maior produtor de arroz de Pernambuco", diz.
Os efeitos do processo de degradação da terra estão sendo mitigados após a introdução de outras culturas, como melancia, tomate e manga. "Ainda se produz arroz, em média, 80 a 100 sacas, no máximo, por hectare, a metade do que ocorria antigamente", explica Marizan. Segundo o MMA, até 2008, 546 Km², de uma área total de 1.658 Km², os seja, quase 33% do município, sofreram processo de desmatamentos: a caatinga foi devastada para possibilitar a agricultura e a pecuária.
FERNANDO MAIAREPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste
Cabrobó (PE). "Aqui não serve mais para nada. O sal tomou conta desse pedaço de terra que nem os animais se aproximam mais". O depoimento do agricultor Cícero Vieira Rodrigues resume a situação em que se encontram 10% dos 22 hectares da Fazenda Bela Vista, de sua propriedade, em Cabrobó, um dos quatro núcleos de desertificação segundo critérios adotados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), localizada a 531 Km de Recife, às margens da BR- 428. O problema é tão grave e de difícil reversão que onde deveria estar a camada de areia, facilmente se apanha o sal com a mão.
Parte da Fazenda Bela Vista tem o solo coberto de sal e não tem mais utilidade Fotos: Cid BarbosaO panorama nessa parte da fazenda impressiona. O verde do solo deu lugar ao branco do sal. O manejo incorreto da terra foi o principal responsável pela completa degradação do local. A velha prática de retirar a vegetação para preparar a lavoura, seguida de enchentes sucessivas, levou o que restava da parte superficial do solo, deixando pequenas voçorocas. "Fomos surpreendidos. Em 2008, logo após a "limpeza" da terra, veio a água em excesso. O que sobrou desde então foi o sal. O pessoal da Embrapa esteve aqui e disse que somente com a implantação de drenos poderíamos tentar salvar o terreno. Só que, do ponto de vista financeiro, é inviável", lamenta Cícero. Outro aspecto da salinização é que a terra, na maioria dos trechos, é bem fina e aparentemente úmida.
A maior prova de que a ação antrópica foi a responsável pela degradação fica na mesma fazenda, a menos de dez metros de distância da área atingida. Ali, a plantação de melancia com outras culturas consorciadas produz uma bela imagem verde. Segundo Cícero, a irrigação é feita por meio de gotejamento, ou seja, a água é usada de forma parcimoniosa. O mesmo cuidado existe com a adubação, aplicada naturalmente e em doses precisas. "Aprendemos a lição. Se não agirmos de forma sustentável, tudo um dia se acaba, a exemplo do que ocorreu aqui do outro lado", ensina.
Mesmo com as dificuldades, Cícero ainda vai fazer uma última tentativa de pelo menos minimizar os efeitos da salinização. "O sal é tão cruel que nem o capim sobrevive a ele. Vou tentar a forrageira atriplex (erva-sal) - uma planta que se caracteriza pela sua elevada tolerância à seca e salinidade do solo".
O secretário de Agricultura de Cabrobó, Marizan Rodrigues, reconhece que o manejo de forma abusiva da terra é um dos principais responsáveis pelo processo de desertificação enfrentado pelo município. "Durante décadas, a cultura do arroz, com irrigação excessiva e adubação realizada sem qualquer tipo de análise do solo contribuíram para deixar a terra salinizada. Algumas áreas foram abandonadas pelos agricultores. Hoje, a gente vê o chão rachado onde os canteiros de arroz existiam. Cabrobó foi por muito tempo o maior produtor de arroz de Pernambuco", diz.
Os efeitos do processo de degradação da terra estão sendo mitigados após a introdução de outras culturas, como melancia, tomate e manga. "Ainda se produz arroz, em média, 80 a 100 sacas, no máximo, por hectare, a metade do que ocorria antigamente", explica Marizan. Segundo o MMA, até 2008, 546 Km², de uma área total de 1.658 Km², os seja, quase 33% do município, sofreram processo de desmatamentos: a caatinga foi devastada para possibilitar a agricultura e a pecuária.
FERNANDO MAIAREPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste
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