CRÔNICA
No
meu tempo de infância, a praia era o lugar onde geralmente, todos viviam
felizes, as pessoas eram tranqüilas e não tinham ambições exacerbadas, não
gostavam de intrigas nem de falsidades.
Os
praieiros não tinham preconceitos, não discriminavam as pessoas, nem agiam com
maldades. A sobrevivência de cada um era da preocupação de todos.
Os
pescadores iam à pesca, os artesãos cuidavam de seus artesanatos, as crianças
brincavam descalças nas areias alvas e escalavam falésias avermelhadas.
Na
praia, a brisa de mar era mais suave e as ondas mais calmas, o céu mais
estrelado, o coqueiral mais abundante e produtivo tornava a praia mais bela, um
verdadeiro paraíso.
Na
praia do meu tempo de criança, as estudantes aprendiam em salas improvisadas,
sem quadros de giz e os mestres eram recrutados da população feminina entre
pessoas de maior instrução.
Era
uma vez esta praia, onde as Marias, as Joanas, os Josés, os Antônios não
recebiam merendas nem assistência social, mas em compensação os alunos não
utilizavam-se de artifícios para alcançar seus objetivos.
As
casas da praia eram feitas de taipa, cobertas de palhas de coqueiros e, ainda
assim, pareciam, aos olhos dos donos, muito mais aconchegantes do que as de
hoje, construídas em alvenarias.
Aos
domingos, todos iam ao futebol, praticados em campo improvisado, como diversão,
fazer espontâneo dos habitantes da comunidade.
No
período natalino, as crianças, adolescentes e adultos vestiam roupas novas para
assistirem a missa. Depois dançavam forró, comiam bolos regionais com aluá de
abacaxi.
A
água que se bebia, era apanhada nas vertentes e não precisava filtrar nem
ferver, pois era límpida e saudável, livre de contaminação.
A
vida na praia mudou. A população aumentou, o lugar desenvolveu-se, virou vila
e chegou, enfim à cidade.
A
vida “endureceu” para muitos. A realidade presente é cruel. Quem tem bastante
quer ter sempre mais.
Era
uma vez aquela praia da minha infância. N]ao tinha dono nem dona. Era de todos.
Hoje o progresso chegou e se tornou uma grande confusão. A solidariedade e o
amor cederam lugar ao egoísmo, e já não há aquela efetiva convivência entre os
moradores da mesma rua, nem sequer, muitas vezes, vizinhos conhecem-se entre
si.
Onde
está aquela praia em que deixei na areia as marcas dos meus pés?
por Naide
Maria de Lima
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