- Rafael Roncato
Do UOL, em São PauloAriadna, Felipa e Thaís são as "neomulheres", novas representantes do sexo feminino
"Sentia-me muito mal usando roupas masculinas. Fui trocando meu armário aos poucos pelas femininas e percebi que me sentia bem com as novas peças, que caiam melhor no meu corpo", conta a modelo Felipa Tavares, de 25 anos, batizada de Felipe. "Não é fácil fazer essa mudança de um dia para o outro, mas sempre me senti mulher."
Antes de sequer pensar se Felipa deve ou não comemorar o Dia Internacional da Mulher, reflita sobre a provável trajetória de pessoas como ela. Foram consideradas do sexo masculino ao nascer, batizadas com nome de menino --e criadas como tal--, mas desde cedo sentindo que pertenciam ao gênero feminino. Sem mesmo tentar imaginar a discriminação que a maioria delas sofre diariamente, dentro e fora de casa, fica mais difícil julgar de maneira tão superficial se essas novas mulheres devem ou não se sentir homenageadas no dia 8 de março.
Antes de sequer pensar se Felipa deve ou não comemorar o Dia Internacional da Mulher, reflita sobre a provável trajetória de pessoas como ela. Foram consideradas do sexo masculino ao nascer, batizadas com nome de menino --e criadas como tal--, mas desde cedo sentindo que pertenciam ao gênero feminino. Sem mesmo tentar imaginar a discriminação que a maioria delas sofre diariamente, dentro e fora de casa, fica mais difícil julgar de maneira tão superficial se essas novas mulheres devem ou não se sentir homenageadas no dia 8 de março.
Em 1949, a escritora Simone de Beauvoir disse que ninguém nasce mulher, mas torna-se mulher. E, segundo antropólogos e sociólogos, assim realmente é. "Para a antropologia e a teoria de gênero, ser mulher ou homem é um aprendizado social, cultural e histórico", explica Heloísa Buarque de Almeida, professora de antropologia da USP. A própria transexualidade é uma radicalização dessa ideia: não basta simplesmente nascer com o corpo do gênero feminino. O que basta é sentir-se mulher."
- "Sempre me senti mulher", afirma Felipa Tavares
A maquiadora Thaís Tomazonni, de 20 anos, também dividia a mesma sensação descrita por Felipa: “Desde pequena, sempre tive dificuldades em me adaptar ao comportamento masculino. Na minha adolescência, não tinha vontade de sair paras festas, por me sentir inadequada”, conta Thaís, que se comportava com a delicadeza que não se espera de um garoto. Para ela, ser mulher vai da escolha da roupa ao comportamento. E ela considera o Dia da Mulher muito importante. "Fico feliz cada vez que sou lembrada como mulher. É uma conquista muito grande."
Quem também defende a teoria é a empresária Agatha Lima, de 40 anos. Para ela, o importante é como cada um se sente e se vê. "As pessoas acham que ser mulher é ter um órgão genital feminino, mas não é bem assim. Ser mulher é ter uma identidade de gênero.”
O dia das neomulheres
Além de comemoração, o dia 8 de março marca a luta e manifestação pelos direitos femininos. Cristiane Gonçalves da Silva, professora e doutora da Unifesp/Santos, afirma que "é absolutamente justo que todas usem também essa data por reivindicações que permitam que elas sejam tão cidadãs quanto qualquer pessoa.”
Além de comemoração, o dia 8 de março marca a luta e manifestação pelos direitos femininos. Cristiane Gonçalves da Silva, professora e doutora da Unifesp/Santos, afirma que "é absolutamente justo que todas usem também essa data por reivindicações que permitam que elas sejam tão cidadãs quanto qualquer pessoa.”
- "Não me sinto menos mulher que as outras mulheres", diz a maquiadora Thaís Tomazonni
Ariadna Arantes, 27 anos, é um dos exemplos de mulher da nova geração. Ao participar do “BBB”, sua história despertou a curiosidade do brasileiro sobre o tema, levantou debates e a levou às páginas da revista “Playboy”, ensaio que serve como grande reconhecimento de sua natureza. "Ser mulher é ótimo. Não me sinto nem mais nem menos, me sinto eu mesma”, diz ela, que representou a "mulher do novo milênio" durante o desfile da escola de samba Vai-Vai.
Preconceito, ainda que tardio
Como qualquer mulher em uma sociedade machista, o desafio maior de quem se tornou uma continua sendo o preconceito. “Qualquer mulher sofre diversos tipos de discriminação. Imagine, então, quando ela nasceu com outro sexo", diz a professora de antropologia da USP. Apesar disso, o psicólogo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar-Sorocaba) Marcos Garcia acredita que, para determinadas profissões, o preconceito está diminuindo. Para ele, carreiras tradicionalmente femininas, como manicure, cabeleireira e maquiadora, são mais receptivas, mesmo que ainda haja barreiras.
Preconceito, ainda que tardio
Como qualquer mulher em uma sociedade machista, o desafio maior de quem se tornou uma continua sendo o preconceito. “Qualquer mulher sofre diversos tipos de discriminação. Imagine, então, quando ela nasceu com outro sexo", diz a professora de antropologia da USP. Apesar disso, o psicólogo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar-Sorocaba) Marcos Garcia acredita que, para determinadas profissões, o preconceito está diminuindo. Para ele, carreiras tradicionalmente femininas, como manicure, cabeleireira e maquiadora, são mais receptivas, mesmo que ainda haja barreiras.
“Sou maquiadora, trabalho em salão, e acredito que, por estar nesse meio, é bem mais fácil. Tenho uma boa clientela e nunca tive problemas”, conta Thaís. "Não me sinto menos mulher que as outras mulheres. Pelo contrário, acho que meu esforço diário não seria encarado com facilidade pela maioria delas". E mais uma característica une as novas mulheres a qualquer membro do sexo feminino: o anseio por respeito, dignidade e felicidade.
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