quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O Nordeste que falta ao samba

Nordeste visto pelo samba vitorioso do Rio e São Paulo
Por Fernando Castilho
Nesses tempos de um certo xenofobismo regional digital, por parte de maus brasileiros, desinformados do que o Nordeste representa em termos de economia e perspectivas do mercado consumidor brasileiro para o futuro, as vitórias da Mocidade Alegre, em São Paulo, e Unidos da Tijuca no Rio de Janeiro, ambas homenageando nordestinos famosos pela sua arte e defesa da questão regional, é um alento de como esse tipo de sentimento tornou-se velho e fora de moda apesar do uso de novos recursos tecnológicos das mídias sociais.
Sem querer avançar muito num debate sobre a importância de Jorge Amado, para o Brasil e para a Bahia, em especial, pela sua regionalidade. E muito menos no que Gonzaga, pela sua nordestinidade musical e também, em especial, pela pernambucanidade, as vitórias dessas duas escolas apenas consagram o manancial que a cultura nordestina tem.
Claro que o trabalho da Mocidade Alegre, mostra a visão de um Jorge visto de São Paulo sem querer fazer uma biografia, mas apenas mostrando sua importância para a cultura brasileira e a consolidação de uma identidade nacional homenageando o candomblé, a capoeira e as festas populares que integram o universo do famoso livro “Tenda dos Milagres”, do escritor baiano.
Da mesma forma que a visão da Unidos da Tijuca é uma visão de como o Rio de Janeiro, na cabeça do carnavalesco Paulo Barros, vê Gonzaga e sua obra como elemento de divulgação da identidade nordestina no Sul. E isso é muito claro quando ele retratou a obra do cantor na figura do cangaceiro, na feira de Caruaru e gente do Nordeste ou dos bonecos de Vitalino. Essa é uma expressão de riqueza da cultura nordestinos. Ambos mostram o Nordeste visto do Sudeste.
Esses dois brasileiros que, se vivos estivessem, fariam 100 anos em 2012 ajudaram muito numa forma de arte que só as escolas de samba do Rio e de São Paulo sabem: Fazer o Nordeste ser retratado de uma forma positiva. Sem a velha imagem da seca, de um estorvo que o Brasil desenvolvido tem que carregar. Até porque, economicamente, hoje não é mais.
Homenagear Gonzaga e Jorge é simplesmente homenagear o Nordeste pela sua bagagem cultural e personalidade ou, como dizem alguns, sua identidade. As vitórias das duas escolas ajudam apenas a mostrar que depois de 500 anos a identidade nordestina é tão forte, tão rica que pode virar tema de Carnaval e dar campeonatos a quem a elege para mostrar um pouco da gente dessa região, tão brasileira como qualquer outra, embora diferente.
-Fernando Castilho é jornalista, titular da Coluna JC Negócios, do Jornal do Comércio, Recife

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