Volta e meia trazem à lumen nas discussões políticas, nacionais, uma frase que se tornou lugar-comum. Virou verdade absoluta, quase uma unanimidade:
- Todo povo tem o governo que merece.
Sua origem, contextualização histórica e aspectos ideológicos do próprio autor quase nunca são lembrados. É possível que sejam intencionalmente ignorados.
Quem a produziu foi o conde Joseph-Marie de Maistre (nascido em 1753, na França). Era um pregador contra a Revolução Francesa, além de defender com ardor messiânico a retomada das dinastias monárquicas.
Para ele, a força divina intervencionista no Estado na sociedade, pelas mãos da Igreja, personificada no papa, completaria o nirvana social.
Enfim, esse diplomata, filósofo e advogado, talvez hoje estivesse relativamente satisfeito com o que testemunhamos no Brasil, que é o poder pelas mãos de plutocratas, oligarcas e espertalhões.
Só faltaria aí a entronização de algum descendente da casa de Orleans e Bragança, numa monarquia, para lhe deixar quase no nirvana.
Pessoalmente, discordo da assertiva. Ou a questiono parcialmente.
Ela tem servido aos próprios donos do poder à justificação de sua força, sem que mergulhemos na raiz da discussão, de uma forma mais científica.
O povo – numa democracia representativa como a nossa – escolhe intermediários para representá-lo, sob valores e interesses decorrentes de sua cultura, capacidade cognitiva e discernimento.
È sempre fácil se afirmar que a massa analfabeta e faminta, é responsável por suas escolhas ruins. Assim, a própria elite inescrupulosa justifica seu poder, dando-lhe aura de legitimidade.
Temos o governo que merecemos, com base no que podemos enxergar. E é falácia se proclamar que apenas o pobre-ignorante vende seu voto e seu destino. Da classe média e entre os mais abastados, também emergem votos à manutenção desse status quo, porque vivemos na escuridão.
Somos vítimas do pior dos males para uma sociedade: o “analfabetismo político”.
É graças a essa mazela, que o povo sofre toda a culpa pela perpetuação desse modelo reducionista, expoliador, expropriador, excludente e predatório.
Por isso que qualquer um se julga no direito de bradar, com pompa:
- Todo povo tem o governo que merece!
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